Entrevista


RODRIGO TEIXEIRA ENTREVISTA BRÍGIDO IBANHES • UM PAÍS CHAMADO FRONTEIRA

junho 5, 2010, 1:23 am
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Em uma viagem a Bonito em 1997, o Sergião – um dos guias turísticos mais antigos da cidade cortada por rios incrivelmente azuis e cristalinos -, me colocou nas mãos textos sobre Silvino Jacques (Camaquã-RS 17/02/1906 – Fazenda São Além/Bela Vista-MS 19/05/1939) . Um gaúcho, apadrinhado por Getúlio Vargas, que passou de herói a um dos bandidos mais temidos do antigo Mato Grosso. Era o ‘Lampião do Pantanal’. Anos 30. Junto, Sergião ainda me entregou outro texto, este referente a Senhorinha, a matriarca da família Lopes, que foi sequestrada e presa pelos paraguaios durante a Grande Guerra. Mas esta é outra história!
Na semana passada, fui levar meu livro – Os Pioneiros – para os estande da UBE-MS na Feira do Livro do Sesc. Ao lado tinha uma banca da editora da UFMS e encontrei, por apenas R$ 15, o livro ‘Silvino Jacques – O Último dos Bandoleiros’. Eu sabia que realmente tinham lançado um livro sobre o curioso personagem chegado a ‘lei do quarenta-e-quatro’!
Comprei o livro e ‘rapidin’ devorei as 300 e tantas páginas. Que história! Não tive dúvidas. Liguei para o amigo Zito, da editora da UFMS, e para o correspondente do jornal O Estado de MS, Antônio Coca, em Dourados e rapidamente estava com o fone de Brígido Ibanhes, o autor do livro que foi retirado das livrarias após ser lançado em 1986 e que, depois de uma batalha judicial, o direito a expressão venceu. Brígido, aliás, é uma figura ímpar. Abaixo o texto bruto da nossa entrevista que foi publicada com edição (pois tive de trasnformar os brutos 36 mil toques em 9 mil para se encaixar no formato do jornal impresso…) em O Estado de MS no dia 05 de junho de 2010.

Rodrigo Teixeira – Qual a sua idade, onde nasceu?
Brígido Ibanhes – Nasci em 8 de outubro de 1947, em Bella Vista Norte, cidade paraguaia, na Rua Jatayty Corá, próximo à igreja de Nuestra Señora Auxiliadora. Naquela época, a cidade era um simples povoado, de casas de taipa, com cobertura de sapé, escondidas no meio de arvoredos e boa parte coberta ainda pela mata cortada de trilheiros. Em julho daquele ano, o ilustre escritor mineiro, trocaletras e letrado, Guimarães Rosa, esteve em visita àquela cidade, para se inteirar a respeito da revolução no Paraguai, e, conforme escritos (In Ficção Completa, p 936 – crônica publicada no Correio da Manhã, em 17 de agosto de 1947), esteve a menos de duas quadras da casa dos meus pais. Nasci durante a Revolução de 47, num momento em que dois grupos rivais se tiroteavam no meio da rua, por conta de umas reses que se encontravam na rua. O gado era mercadoria preciosa, pois representava o suprimento das tropas. Minha mãe estava entrando em trabalho de parto, e, quando a parteira e as demais pessoas escutaram os tiros ali perto, fugiram todos para os fundos do quintal, se escondendo no meio do bananal. Quando retornaram, eu havia nascido, mas ainda não chorara. A parteira cortou o cordão umbilical, e me suspendeu pelas pernas. Nesse momento, minha irmã Josefina, que até então fora a caçula, me acertou com uma goiaba verde que tinha na mão. Abri o berreiro, e todos ficaram contentes, menos a minha irmã; ela via o sorriso de encostar nas orelhas que meu pai dava, pois ele queria muito um filho. Até então tiveram duas meninas. Portanto, cheguei ao mundo num momento delicado, e já sofrendo atentado; essas situações de confrontos e perigos iam me acompanhar para o resto da vida. A lembrança mais antiga que tenho da minha tenra infância foi a de estar numa rede, na sombra de árvores, e ouvia o marulho das águas do Rio Apa. Olhei e vi os reflexos dos raios do sol na água limpa e transparente. Conforme a minha mãe, a saudosa dona Affonsa, eu tinha nove meses e ela teria ido lavar roupas no rio, como era costume na época.

RT – Seu nome, Brígido Ibanhes, soa bem fronteiriço. Quais as suas raízes?
BI – Sempre nas minhas falas, afirmo que nasci num país (“che retã”, em guarani) chamado Fronteira. Um dia escrevi um artigo em que defendo o nome do Mato Grosso do Sul como o Estado das Fronteiras, pois além das fronteiras territoriais, vivemos em fronteiras sociais, fundiárias, ambientais e culturais. Digo também que sou um cidadão típico fronteiriço, pois nasci no Paraguai, onde cursei as primeiras letras no “grado’í”, e depois, passando para Bela Vista, conclui meus estudos no Colégio Santo Afonso, em frente ao 10° Regimento de Cavalaria. É importante lembrar que, por ser filho de brasileiros, fui registrado nascido no Distrito de Nunca-Te-Vi, em Bela Vista, Brasil. Portanto, sou brasileiro, de origem paraguaia.Meus pais eram de família brasileira, da região da antiga Porteiras, hoje Caracol, mas, cuja origem paraguaia se remonta à Grande Guerra. No meu último livro lançado, “Chão do Apa – Contos e Memórias da Fronteira”, faço o relato desses meus antepassados. O nome Ibanhes foi dado por um médico inglês ao meu bisavô, caraí Bernardo Ibanhes, na Fazenda Casa Blanca, em Concepción (PY), onde ele foi criado, sendo sobrevivente da Batalha de Acosta Ñu (A Batalha das Crianças). Minha tataravó, cuñacaraí Josefa Sanches, foi sobrevivente do confronto em Cerro Corá, onde foi morto Solano Lopez. Ela se dispersou na ocasião, e tomando o rumo do Apa foi se estabelecer com sua filha Margarida (esta estava grávida da minha avó, Petrona Sanches) na região isolada do Carapê, entre Porteiras e Porto Murtinho.

RT – Onde vc cresceu? Aprendeu a falar o guarani quando e de que maneira?
BI – Até os sete anos vivi no Paraguai, onde, como todos, falava o guarani em casa e na rua, e na escola (Escuela San José) a gente estudava e falava o espanhol. Comecei também cedo a ter contato com os gibis, meus primeiros clássicos; comia muita “galleta” e coquito enquanto lia as revistas, muitas vezes na madrugada à luz do lampião a querosene. Passei ao Brasil com oito anos, e entrei no segundo ano primário. Lembro que a primeira palavra que aprendi em português foi colher, que a gente chama de “cuchara”, em espanhol. Na minha infância, uma coisa sempre me foi comum, nos dois países, as águas do Apa. Sempre digo que cresci no barranco do rio, onde me sentava quietinho, apreciando os dourados e pacus que, por cima do pedregulho, se moviam majestosos naquelas águas limpas. Com cinco anos aprendi a montar cavalo, e, aos seis, eu era encarregado de levar a marmita ao meu pai que tocava bolicho na região do Lagoão, no Ninho das Cobras, próximo ao quartel em Bela Vista. Naquela época existia poucos autos, eram assim chamados os automóveis e caminhões; tudo era feito a cavalo ou puxado nas carretas. E, desde cedo, os meninos montavam no lombo do beiçudo, que era para ir pegando traquejo. De vem em quando levava uma putiada por não cuidar direito do animal, mas quem resistia a um joguinho de bola na várzea ou um pulo no Apa? E, assim a minha infância passou.Depois de concluir o primário, os Padres Redentoristas, de comum acordo com a família, me levaram para estudar no Seminário do Santíssimo Redentor, em Ponta Grosa (PR). Foi ali que aprendi outras línguas, como o inglês e francês, o latim e o grego, e tive o primeiro contato com os clássicos da literatura nacional e internacional. José de Alencar e A.J. Cronin povoaram a minha imaginação, entre outros. Saí do Seminário com dezesseis anos e fui morar em São Paulo, na Vila Mariana, com a minha irmã Josefina (aquela da goiaba), que havia casado com um militar e se mudado para lá. Na Capital de São Paulo passei dois anos, quando, então, retornei a Bela Vista para servir ao Exército no 10° RC.

RT – Mora em Dourados desde quando?
BI – Moro em Dourados desde dezembro de 1990, quando, como funcionário do Banco do Brasil, vim de Santa Cruz do Capibaribe, Pernambuco. Tomei posse no Banco em 1973, e, cinco anos depois, me transferi para Patrocínio (MG). Passei, na época, num concurso interno e fui transferido para o Nordeste, de onde, passados dois anos, vim para Bataguassu, na divisa do nosso Estado com São Paulo. Dois anos passados, me transferi para Sidrolândia (MS), onde, por questões de divergência da política do Banco, fui transferido novamente para o Nordeste. Nossa agência, em Santa Cruz, foi assaltada duas vezes pela mesma quadrilha, cujo chefe acabou sendo preso através da minha intervenção. Por isso, o Banco me transferiu de volta para este Estado, e vim parar no Cesec em Dourados. Novamente por não concordar com a política interna do Banco, e por ter fundado o Movimento de Moralização e Ética no Trato da Coisa Pública (METRA), acabei sendo afastado e, depois de uma longa pendenga judicial, pode ser que esteja próximo o final dessa história.

RT – Já tem quantos livros lançados? Vive como escritor?
BI – Meu primeiro livro, “Silvino Jacques, o Último dos Bandoleiros” lancei numa noite gelada de 30 de maio, na AABB, em Sidrolândia (MS). Por contar essa história polêmica envolvendo o afilhado do Getúlio Vargas, grupo político e ruralista, entre alguns familiares, decidiram me pressionar para não fazer o lançamento. Na véspera, na casa do saudoso Professor Antônio Lopes Lins, Presidente da Academia Sul-Matogrossense, dois pistoleiros, passando-se por meus amigos, me cercaram e tentaram me intimidar, dizendo que iam acabar o evento à bala. Eu lhes respondi que os convites estavam entregues e que eu não podia voltar atrás. No outro dia cedo, o juiz da Comarca de Sidrolândia tomou conhecimento das ameaças, e como fosse mantido o lançamento, mandou que uma patrulha permanecesse de maneira ostensiva na AABB. O povo ia chegando e, quando viam os policiais, pensavam que faziam parte de alguma figuração. Não falei nada, porque senão não ficava um para contar a história. Durante o evento, alguém ligou e perguntou se estava acontecendo um lançamento de livro; o zelador da AABB, que nada sabia, disse que sim, e aí concluímos sem maiores dissabores. Em poucas semanas, o livro foi considerado, pela revista Veja, o livro mais vendido em Campo Grande. Mas, logo também foi apreendido por uma ordem judicial que partiu do mesmo juiz, Dr. Luiz Carlos Saldanha Rodrigues. Então, começamos uma pendenga judicial que, seis anos depois, terminou com a vitória da liberdade de expressão no Tribunal de Justiça, e assim essa história do bandoleiro Silvino, uma das mais fascinantes do nosso antigo Mato Grosso, se integra à própria memória do nosso Estado e do Centro-Oeste Brasileiro.
Seguiram-se, depois, os lançamentos de:

“Che Ru – O Pequeno Brasiguaio” (1989)
Contos da infância na fronteira Brasil/Paraguai, em homenagem ao meu pai (“che ru”, em guarani). Na época, tinha a pretensão de ser a primeira obra literária com o objetivo de comungar dos objetivos do Mercosul. Ao final do texto, há uma breve gramática do guarani com um vocabulário das palavras do cotidiano, para que o brasileiro, que tivesse interesse, tomasse um mínimo de conhecimento dessa língua tão onomatopaica e bonita.

“A Morada do Arco-Íris – O Maior Tesouro das Américas” (1993)
Esta obra, eu considero a mais importante entre as outras. Baseado na escrita de um antigo pergaminho jesuítico, descobrimos, na região de Volta Grande, município de Caxambu do Sul (SC) uma cidadela toda construída em pedras lavradas. Depois de anos de pesquisas, em que passamos todo tipo de tribulação e presenciamos fenômenos muito estranhos, restou uma descoberta inédita, que tem despertado o interesse de muitos pesquisadores e de Universidades. A história começa no nosso Estado, e depois segue para o Oeste Catarinense.

“Kyvy Mirim – A Lenda do Pé de Tarumã e do Pombero” (1997)
Sempre quis produzir uma obra que tratasse da Mitologia Guarani. Esta obra revela todo o universo mítico dessa etnia que, além de representar a maior comunidade nativa do Brasil, tem como referência uma língua (o guarani) que foi falada no Brasil (Língua Geral) durante séculos, até que o Marques de Pombal a proibiu. A lenda do pé de tarumã traz uma forte mensagem ecológica, de preservação, não só das matas, mas do povo da floresta. Kyvy Mirim (“O Caçula”, em guarani, e que deu origem à palavra curumim) foi lançado na I Feira Interamericana do Livro, em Curitiba (PR), depois em São Paulo (SP), na Livraria Horus, e, infelizmente, se esgotou antes que eu pudesse fazer seu lançamento no nosso Estado.

“Ética na Política – Entre o Sonho e A Realidade” (2001)
As experiências vividas na coordenação do Movimento de Moralização e Ética no Trato da Coisa Pública (METRA) inspiraram esta obra, que foi lançada em praça pública, onde o povo está. Sua mensagem de conscientização política traduz que, quem realmente deve ter o poder neste país, é o povo. Em 1991, quando foi fundado o Movimento, ninguém falava em combater a corrupção política, pois, como resquício da ditadura, as pessoas ainda tinham medo de tocar esse assunto. Hoje virou febre e objetivo de marketing até das emissoras de tevê. Até onde sei, o METRA foi a primeira entidade legalizada, no Brasil, com esse objetivo. Sua fundação me custou a carreira no Banco do Brasil.

“Martí, Sem a Luz do Teu Olhar” (2007)
Meu primeiro trabalho como romancista. Quando em maio de 2006 sofri o atentado que me deixou de cama por quatro meses, resolvi preparar esta obra que há muito vinha ensejando sua trama. Dois meses após o lançamento no Shopping Avenida, a apresentadora global, Ana Maria Braga, solicitou uma resenha do livro e a colocou em seu site. Nele abordo as questões sociais, tantos das periferias como da burguesia, e dou enfoque especial ao transtorno mental que acomete tantas mulheres após o parto. Faço um retrato de Dourados e parte de Campo Grande, e registros localidades e pessoas que mereceram destaque.

“Chão do Apa – Contos e Memórias da Fronteira” (2010)
A fronteira como minha pátria e lugar lúdico da minha infância. Chão do Apa abrange tanto o território paraguaio como o brasileiro, numa sintonia, muitas vezes, a que só o fronteiriço é capaz de se adaptar. Tradições, linguajar, tudo reforça para que essa região seja singular, e que se perceba que a fronteira delimitada pelo rio, está apenas nos mapas; ela não existe em nosso sangue, muito menos em nossas emoções. Quem não gosta de uma sopa paraguaia e de arrastar o pé ao som da Mercedita? Uma homenagem, a que jamais eu poderia me furtar, ao meu torrão natal. Através de contos e estórias revelo toda a força da cultura fronteiriça, de antigamente.
Quanto a viver dos meus trabalhos como escritor, isso é difícil, pois infelizmente a cultura, neste país, não é valorizada. Mas, está mudando aos poucos, com o incentivo à leitura e ao fomento da literatura regional. Sempre digo que comecei minha carreira como escritor em 1986 carregando sacolinha com livros, e hoje ainda continuo carregando sacola; apenas que a sacola aumentou, e, com ela, o peso. Eu perpasso por toda a cadeia criativa, produtiva e de mercado no preparo, impressão e distribuição dos meus livros; inclusive, faço a cobrança e, como contabilista, acabo por fazer o lançamento do prejuízo na devida rubrica. Só a imortalidade justifica tamanho esforço.

RT – Trabalha em qual projeto neste momento?
BI – Tenho dois projetos em andamento. “Jasy Jatere”, lenda da Mitologia Guarani, que foi absorvida pelo folclore branco com o nome de Saci Pererê. O texto está pronto há anos; estão sendo trabalhadas as ilustrações coloridas por Márcia Széliga, em Curitiba (PR). Tudo a seu tempo, como Deus quer. Outro projeto é a continuação do romance “Martí, sem a luz do teu olhar”. O esboço já está definido com o título de “Martí, a noiva de Cristo”. Estou aguardando apoio, para me dedicar ao preparo da obra.
Gostaria de ressaltar que, desde que lancei o primeiro livro, percebi que a cultura no nosso Estado está delegada a coisas secundárias. Antes era pior, quando só a classe abastada se dedicava às artes, e, se fosse pobre que mostrasse algum talento, sua arte não era considerada trabalho. Muitas vezes o sujeito era taxado como vagabundo ou fazia coisas de maricas. Para ajudar a mudar esse quadro, sempre fui um militante político da cultura, participando ativamente dos conselhos e fóruns de cultura. Fui delegado do MS na I Conferência Nacional da Cultura (2005), e na Pré-Conferencia do Livro, Leitura e Literatura (2010), em Brasília (DF). Em Bela Vista, meu torrão natal, formei o Conselho de Cultura, bem como discutimos a criação da Fundação de Cultura e do Fundo de Incentivo Cultural. Tenho participado do Festival de Inverno de Bonito, bem como do Festival da América do Sul. Sou membro da União Brasileira de Escritores e hoje presido a Academia Douradense de Letras. Devido à minha luta em prol da liberdade de expressão, e após o atentado, fui indicado ao Nobel de Literatura, em 2007, pela Federação das Academias de Letras e Artes do Mato Grosso do Sul. É bom frisar que essa militância é gratuita, pois não se ganha nada, e, ao contrário, muitas vezes a gente tem que meter a mão no bolso.

RT – Como foi o processo para fazer este livro e quanto tempo levou para você realizar a pesquisa?
BI – Foram quatorze anos de pesquisa, centrada em ouvir e gravar depoimentos de testemunhas primárias. No entanto, é bom ressaltar que, quando eu ainda era criança, no Paraguai, através da parede do quarto, ouvia, na madrugada, meus pais conversando sobre o Silvino Jacques. Para mim, na época, eram simples estórias de um sujeito metido a valentão. Mas, foi na década de 70, quando entrei no Banco do Brasil, que comecei a entender melhor a importância das ações desse revolucionário, e depois bandoleiro, no contexto político da década de 1930, e a sua ligação pessoal com o Presidente Getúlio Vargas. Quanto mais eu pesquisava, mais surpreso ficava com as revelações. Era como desmistificar uma lenda, e, por fim, perceber que se tratava também de um ser humano emotivo e sujeito ao modo de vida violenta da época.

RT – Gostaria que você detalhasse qual a relação de sua família com esta história do Silvino. Pelo que li no livro, a sua mãe inclusive teve que fugir com a família em determinada hora. Me fale um pouco da sua família em relação a isso tudo?
BI – Quando o Silvino chegou na região de Porteiras, orientado pelos Loureiro de Bela Vista, ele se tornou amigo de todo mundo, até porque ele, quando queria, sabia ser simpático. Um dos seus grandes amigos, meu saudoso tio Bernabé (irmão da minha mãe, falecido há pouco tempo), era seu companheiro para as serenatas e bailes, onde tocavam e cantavam juntos, seduzindo as cuñataĩs (moças). O Bernabé, inclusive, foi seu ajudante-de-ordens nas escaramuças da Revolução de 32, saindo de Bela Vista até Porto Murtinho, quando o Silvino mostrou todo seu arrojo e valentia. Meu pai, Aniceto Ibanhes, também ficou sob suas ordens no II Esquadrão. No entanto, quando o Silvino, depois da Revolução, matou os paraguaios Franco e Cabaña, e na seqüência, outros paraguaios, entre eles, o Manoelito Coelho, a simpatia acabou. Vale lembrar que o paraguaio Manoelito era genro do poderoso Alípio dos Santos, senhor de muitas fazendas. Meu avô materno, caraí Mateo Cristaldo, foi capataz do seo Orcírio dos Santos na Fazenda Loma Porã. Dessa forma, meus familiares ficaram exprimidos entre os dois grupos que se guerreavam, e, por fim, não suportando mais as pressões, ameaças e mortes, imigraram para o Paraguai, aonde vim a nascer.

RT – O livro está na terceira edição. Qual a tiragem até hoje?
BI – Quando, em 1986, lancei a primeira edição (100 p), eu sabia que a história era polêmica. Por isso, fiz um resumo da história sem entrar em muitos detalhes. E, mesmo assim, me deu muita dor de cabeça. Com a liberação do livro pelo TJMS, em 1992, soltei a 2ª edição, já com mais detalhes que havia pesquisado, mas sem mudar a essência da história, até porque os fatos são únicos, não podem ter duas versões. E, nesse ponto, tomei muito cuidado. Inclusive, no depoimento no processo, o juiz perguntou ao Prudente D’Ornellas se os fatos, que constavam no livro, eram verdadeiros, e ele afirmou que sim. Perguntou-me também o porquê do nome “bandoleiro” que havia lhe dado; respondi que não fora eu que havia lhe imputado tal cognome, mas o Comandante do 10° RC em carta enviada ao Destacamento de Porteiras, pedindo notícias do “bandoleiro Silvino Jacques”, em 1936. A 3ª edição foi feita pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, e teve poucas alterações, mas, precisou tirar o ISBN. Aliás, cada edição, por acrescer detalhes, precisa tirar novo ISBN. Hoje está se esgotando a 5ª edição, e estou já trabalhando a 6ª, em que pretendo revelar um Silvino Jacques também poeta e escritor. A tiragem desse livro está em torno de oito mil exemplares, computando-se todas as edições impressas.

RT – Quantas pessoas entrevistou e como foi para levantar as histórias com tantos detalhes?
BI – O processo de pesquisa, na época, era muito rudimentar. Hoje temos filmadora e outros apetrechos, mas, naquela época, final de 70 e começo de 80, eu mal tinha um gravador. E com ele fui à luta. Muitas vezes as pessoas se negavam a conversar comigo no primeiro contato, pois ainda tinham muito medo e se esquivavam de dar sua contribuição. Precisei convencer muita gente da importância histórica dos fatos, para, finalmente, conseguir a entrevista. Muitas choravam ao lembrar fatos tão marcantes e muitos de mortes. Falei com muitas pessoas que estão, em parte, listadas nas primeiras edições, mas mantenho gravações feitas com os mais importantes personagens dessa história, inclusive com o Delegado Orcírio dos Santos, que acabou por liquidar com o bandoleiro num confronto “mano a mano”, como se diz. Só não pude entrevista o próprio Silvino, por razões óbvias, mas consegui o depoimento de Elódia Charão, uma das suas mulheres, e do Guedes, irmão de sua outra mulher, a Raída, e que acompanhou o Silvino nos últimos anos de vida. Além da pesquisa oral, efetuei a pesquisa documental; para tanto, consegui permissão do Comandante do 10° RC, onde servi em 1966, para ter acesso a documentos sigilosos sobre a Revolução de 32 e me foram fornecidas cópias de correspondência oficiais que tratavam do “bandoleiro Silvino Jacques”. O livro “Pão, Terra e Liberdade: Memórias do Movimento Comunista de 1935”, organizado por Marly de Almeida Gomes Vianna, trata da época em que Silvino estaria sendo convocado para as fileiras dos comunistas que preparavam a Intentona, em 1935. Cada fato ali narrado bate com os fatos que eu havia pesquisado anos atrás a esse mesmo respeito; no entanto, como aquele livro(Pão, terra e liberdade) contém documentos que fazem parte do acervo do Arquivo Nacional, o relato do meu livro recebe a chancela de fé-pública com relação a esse episódio. Por último, o livro “Memórias de Um Soldado”, do General Nelson Werneck Sodré consagra também episódios narrados no meu livro, e o enriquece com dados do Exército, pois esse oficial fez parte da campanha para combater o Silvino Jacques, em 1938. Detalhes dessas duas obras farão parte da 6ª edição em preparo; no prelo, como se diz.

RT – Até onde o livro é verídico e até que ponto você romanceou? Quais as passagens que mais o marcaram? Qual o ato mais violento que vc apontaria do Silvino?
BI – Mesmo nas nossas vidas, muitas vezes tão triviais, quase tudo é romanceado. Nós temos uma capacidade de colocar emoções até nas pedras inertes, por isso, uma fascinante história como essa do bandoleiro Silvino Jacques não poderia deixar de também ser vista como um romance histórico. Além do que, ele, com seu jeito gauchesco, trovador, mulherengo e churrasqueador, facilitou muito para que sua vida fosse tida como um romance. No entanto, todos os fatos são reais, testemunhados e até consagrados através de documentos. É verdade que, em alguns momentos, tive que postar, em alguns trechos, pitadas de poesia, pois o momento era adequado a fortes emoções. Afinal, nossas vidas triviais também contém momentos de poesia. Acho que as duas partes que mais me marcaram foi quando, através das “Décimas Gaúchas” ele narra seus infortúnios na região de São Borja e adjacências; começa com o tiroteio no cabaré e termina ele vindo para o Mato Grosso. Outra parte é o confronto com a patrulha do Delegado Orcírio dos Santos e que culmina com a sua morte, quando seu corpo é abandonado deitado na rede, coberto com a baeta vermelha, na sombra do arvoredo nos campos da Aurora.

RT – Quais foram as pessoas que você teve contato – o Tatu, por exemplo, que conheceram o Silvino?
BI – Na época, tomei muito cuidado para entrevistar apenas as testemunhas primárias, isto é, pessoas que conviveram realmente com o Silvino, seja amigo ou inimigo. Pesquisei também pessoas que estavam envolvidas sentimentalmente com ele, mas apenas como informantes. Sempre deixei de lado o “ouvi dizer”. Nasário Tatu, o guerreiro do Chaco, esse viveu vários confrontos com o bandoleiro, e, naquele seu guarani ameaçando trucidar algumas palavras em português, ele contou, não só para mim, mas para a própria tevê Guanandi que o entrevistou, detalhes desses entreveros.

RT – Você lançou o livro em Sidrolândia em 1986 com escolta policial. Você já sofreu ameaças?
BI – Como disse antes, sofri ameaças de morte e perseguição, inclusive do gerente do Banco do Brasil onde eu trabalhava que, como ele dizia, “comia churrasquinho e tomava uísque” com os pistoleiros que me ameaçaram na casa do Professor Antônio Lopes Lins, prefaciador da obra. A pressão foi muito forte, mas, como sou nunca-tiviano, não surtiram muito efeito. Depois que o livro foi liberado pela Justiça, algumas dessas pessoas que eram contrárias à publicação do livro, leram-no, e viram que era pura história. Muitos até, depois, entraram em contato comigo e manifestavam seu agrado. Em 1992, fui adotado pelo Pen Club International, no 58° Congresso Internacional dos Escritores, no Rio de Janeiro, quando subi pelo tapete vermelho da escadaria do Copacabana Palace, para a cerimônia de adoção, senti que as pressões diminuíram muito, apesar do desconforto do jornalismo brasileiro que presenciei. Hoje, faço parceria com um neto do Silvino Jacques, num site que promove, partindo de Los Angeles (USA), onde Gerson Jacques estuda e vive, a proposta de transformar essa história em filme de longa metragem. O atentado que sofri na noite de 14 de maio de 2006, juntamente com a minha esposa, tem a ver com a liberdade de expressão. Foram momentos terríveis, vividos naquele Dia das Mães. Naquele dia fatídico, o PCC promovia rebelião na penitenciária Harry Amorim Costa, e ocorria também manifestações políticas dos ruralistas. Trabalhei muitos anos como fiscal rural do Banco do Brasil, e, como tal, sei onde a coruja dorme. Ao criticar a truculência dos coronéis que só querem viver à sombra do dinheiro público, a resposta foi o atentado. E o inquérito policial, apesar de ali já constar nomes de empresários, ruralistas, advogados, políticos e funcionários públicos, não chega a lugar nenhum.

RT – Fale por favor das ‘Décimas Gaúchos’. Quando foi escrita, em que circunstância… foi o Silvino mesmo que escreveu? Como ele registrou isso? Foi parar na Biblioteca Nacional? Pq a família não queria q isso viesse a tona?
BI – As “Décimas Gaúchas”, com mais de duzentas trovas, são da lavra do próprio Silvino Jacques. Inclusive, ele tinha uma queda pela escrita; tenho uma foto em que ele está escrevendo seus poemas. Tanto é dele, que uma das suas filhas, Ildorilda Jacques Perrupato, fez o registro da obra na Biblioteca Nacional. A família se opunha, não só a publicação das Décimas, mas ao relato da vida do Silvino. Na época da ditadura, chegaram a usar força policial para intimidar quem ousasse expor até foto do bandoleiro. No processo foi alegado que essa história “se pretendia sepultada para sempre, fora do conhecimento das próximas gerações”.

RT – O Silvino teve quantas mulheres e filhos? Atualmente existem descendentes dele em MS?
BI – Exatamente quantas mulheres conviveram com ele, não se sabe, mas, pelos relatos, ele foi casado, no Sul, de papel passado com Jandira Pinheiro, conhecida como Zanir, mas manteve concubinato, em Mato Grosso, com Elódia Charão e com Almerinda de Góes Falcão, a Raída. Com a primeira, teve a filha Ildorilda; com a segunda, teve o filho Euclides Jacques Charão, e, com a Raíde teve um casal, a Juracy e o Garibaldi Jacques. O Euclides, que era funcionário da tevê Globo, faleceu no final de 80, quando vinha de moto de São Paulo para Campo Grande; inclusive, ele trazia, a pedido de sua mãe, fotos do Silvino que me seriam repassados. Hoje, a Elódia mora em Guia Lopes da Laguna, o Garibaldi em Anastácio, e a Juracy em Jardim, até onde sei. Por revelações recentes, surge um concubinato que ele teve na juventude com uma prima, filha da sua tia Idalina, e que resultou no nascimento de uma menina, que hoje estaria vivendo em Porto Alegre. No entanto, a vida passional do bandoleiro sempre pouco me interessou, a não ser nos momentos que elas se envolveram nas suas ações.

RT – No livro existem muitas passagens violentas, com direito a crime sexual, tortura, canibalismo, estouração de miolos e muita braveza. O Mato Grosso foi um antes e se transformou em outro após Silvino ser morto?
BI – O antigo Mato Grosso sempre foi violento, tanto assim que era conhecido como o Estado onde imperava a “lei do quarenta-e-quatro”. Por se caracterizar, na época da colonização, como um sertão, o Estado quase não tinha condições de reprimir a violência. Após a Guerra do Paraguai, o Exército foi ocupando as fronteiras, e assim se promovia a pacificação, que, de fato, nunca aconteceu, e a violência perdura até os nossos dias. Silvino Jacques foi apenas um dos personagens mais importantes dessa violência cultural, e, com a sua morte, praticamente nada mudou. Tanto assim, que o seu parceiro, o Argemiro Leão, que fora membro da Guarda Nacional e guarda-costas do próprio Getúlio Vargas, foi morto em Dourados, no Bar Pingüim, pelo Delegado Benedetti. E, assim, a violência recrudesceu.

RT – Como você levantou as histórias relacionadas ao período que ele viveu no Sul e depois quando foi para Minas Gerais. De RS a MG são milhares de quilômetros. O Silvino andou demais…
BI – Boa parte das pesquisas feitas no Rio Grande do Sul foram da lavra do Professor Moacir Matheus Semphé, que foi professor universitário em São Borja. Já aposentando, em visita que lhe fiz em São Leopoldo, onde morava na época, me liberou todo seu trabalho. Menotti Hermínio Leão, Aron Slutzky, Normélio Fioravanti Torres, Iara Maria de Barros Jacques me enviaram relatos de fatos presenciados envolvendo a infância e a juventude de Silvino. Daniel Krieger, no seu livro “Desde as Missões” também conta episódio vivido pelo seu pai e o “gaúcho ventania”. Realmente, o Silvino andou muito, inclusive pelo Rio de Janeiro, onde fora mandado estudar. Antigamente, existia uma rota do sul do Mato Grosso que se prolongava para os lados de Minas Gerais, cruzando por Paranaíba. Essa rota inclusive foi trilhada pelo Visconde de Taunay, quando então teve a inspiração para escrever seu romance “Inocência”. Quando Silvino viu que não teria mesmo sossego no Mato Grosso, se aventurou por essa rota e foi parar em Araguari. Num Congresso de Escritores que aconteceu em Foz do Iguaçu, em 1997, conheci uma escritora, com bastante idade e nascida em Araguari, e que se lembrava da repercussão da morte de um delegado assassinado por um pistoleiro do Mato Grosso.

RT – Fale do nome de Silvino. Antes era Selvino? Como é isso?
BI – A forma mais erudita do seu nome era Selvino, que usei nas primeiras edições. No entanto, como meu relato é de cunho popular, acabei por adotar o nome que consta na sua certidão de nascimento, que é Silvino. Ele era um gaúcho indiado, como se diz, moreno e alto. Seus antepassados, até onde a pesquisa chegou, teriam origem na Holanda, sendo que foram muito abastados na região de Alegrete (RS), tendo até um membro com título de nobreza, o Barão de Ibirocái. Silvino nasceu e se criou na estância do futuro Presidente Getúlio Vargas, onde seu pai era carneador.

RT – Onde vc conseguiu as fotos do período? Como a sociedade reagia a situação? Ele chegou a vir a Campo Grande?
BI – A foto da capa me foi cedida pela filha Juracy Jacques, e as outras me foram cedidas por particulares que guardaram como lembrança as imagens da época. Basta entrar no site “Silvino, o Mito” para se verificar como alguns jornais da época noticiavam as ações do bandoleiro. Chegou determinado momento que sua fama correu o Brasil, até porque, naquela mesma época, Lampião, o Virgulino, fazia suas proezas no Nordeste. Lá, eles valorizaram a história do cangaceiro; já aqui, tentaram sepultar a própria história. Existe um relato do nosso conterrâneo Athamaril Saldanha, quando ele administrava uma loja das Casas Pernambucanas, em que ele conta que ali conheceu pessoalmente o famoso Silvino Jacques. Na década de 30, essa loja só existia em Campo Grande. Hoje tenho um bom acervo de fotos do Silvino, algumas muito raras, inclusive a que mostra ele exercendo seu talento de escritor.

RT – Por que esta relação de ódio entre paraguaios e gaúchos? Me chamou a atenção o período em Bela Vista – Major Costinha – que era proibido andar de bombacha. Na fronteira esta disputa ainda existe?
BI – Essa antipatia vem da Guerra do Paraguai. Todos nós sabemos que a maioria das tropas do Império Brasileiro era composta de negros, mas, os comandantes, quase todos, eram gaúchos. Daí a animosidade. O paraguaio é um cidadão pacato, quieto, sem muitas palavras; o gaúcho já é mais papudo, mais fanfarrão, e, por aí, não se davam bem. No entanto, o estancieiro gaúcho sempre gostava do peão paraguaio que era pau para toda obra, e não fazia corpo mole. Portanto, as diferenças culturais acabavam por distanciá-los. Hoje, tudo mudou, e as duas raças convivem até razoavelmente bem, comendo e apreciando o mesmo churrasco. Na próxima edição, estribado nos relatos do General Nelson Werneck Sodré, vamos conhecer melhor esta figura que foi o Major Costinha. Ele imaginou combater o bandoleirismo combatendo o pessoal que usava bombachas, por acreditar que eles seriam amigos do Silvino. Não podemos esquecer também que o Exército combatia duramente contra os comunistas, e o Silvino, com suas bombachas, esteve um período alinhado com as fileiras da foice e do martelo. Nosso ilustre escritor belavistense, Dr. Sidney Leite, defende essa tese, que, infelizmente, não se sustenta nos relatos do General Sodré.

RT – Quais famílias importantes de MS que estão envolvidas nesta história? Loubet, Miranda, dos Santos…
BI – Diria que todas as famílias do sul do antigo Mato Grosso acabaram se envolvendo na história do Silvino Jacques. Os graúdos, a maioria coiteiros, e alguns lhe movendo ferrenha perseguição. A região era formada por latifundiários que não comungavam da política do Getúlio Vargas, principalmente com relação à reforma agrária. Silvino foi mandado pelo Presidente para esta região do Mato Grosso para dar combate aos paraguaios que estavam adquirindo terras na região e proteger os interesses dos estancieiros, numa tentativa de lhes conquistar a simpatia. Só que, quando o fogaréu da violência incendiou a região, grandes, médios e pequenos ruralistas se viram envolvidos pela queimada. Muitos fugiram, outros pereceram, outros ganharam um bom dinheiro com o gado roubado pelo bandoleiro e pela terra que perdeu o valor. Os dos Santos, cujo patriarca era proprietário de inúmeras fazendas, ao final dessa guerra, tiveram que vender o pouco que sobrou para os Miranda, para saldar dívidas e não morrer na miséria. Inclusive, juntaram as famílias como era o costume, para se protegerem e ao seu patrimônio.

RT – No livro vc usa e traduz várias expressões e palavras em guarany. Por que decidiu fazer isso no livro e o que representa o guarany hoje na fronteira de MS e Paraguai?
BI – Na região do Mato Grosso onde o Silvino viveu e traçou o seu destino, era, e é ainda, muito comum o uso do guarani como uma língua do cotidiano. Devido também as minhas raízes, seria quase que impossível eu escrever um livro sem fazer uso de termos em guarani. Ela é uma das mais fortes características da nossa literatura regional, inclusive na música. Hoje, temos no Estado, o município de Tacuru que aprovou uma lei tornado o guarani a sua segunda língua oficial. Acho que apenas traduzi a nossa cultura fronteiriça.

RT – Fale um pouco do lado artístico do Silvino. Ele fazia trova, poema, tocava gaita, violão… cantava também?
BI – Lamentável que as pessoas fiquem privadas de conhecer as trovas das “Décimas Gaúchas” de Silvino Jacques, por conta de picuinha familiar, coisa há muito tempo ultrapassada; aliás, ele mesmo, numa das trovas, pede que se conheça a sua história. Para sua amante, Raída, escreveu um lindo poema, cheio de paixão. Até nas cartas que enviava aos fazendeiros para lhes extorquir dinheiro, ele usava, muitas vezes, expressões carregadas de emotividade. Era a figura completa do bandoleiro: bom atirador, excelente ginete, boêmio, e vivendo de perigosas empreitadas políticas. Nas suas revanches e vinganças, ele sabia a medida exata que poderia aplicar ao seu inimigo, e, assim ocorreram, pelas suas mãos, vários fatos pitorescos e hilários. Era também um modo de divertir o seu bando, já que nem sempre tinha essa oportunidade.
Gostaria de deixar consignado que, os leitores interessados em adquirir os meus livros, podem entrar em contato pelo e-mail jasyjatere@terra.com.br, que terei o maior prazer em lhes atender pelos Correios. Inclusive, se quiserem, levam o autógrafo. Também promovo palestra sobre a nossa literatura regional.

Muito obrigado Brígido!!!

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