Kyvy Mirim



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QUESTÕES PARA ENTREVISTA COM O AUTOR BRÍGIDO IBANHES
Entrevista formulada pela Professora Rosângela Ferreira Luz.

1. Como nasceu a idéia de produzir esta obra?
Há muito tempo acalentava o sonho de produzir uma obra que tratasse desse universo mágico e telúrico que é a mitologia guarani, um conjunto de lendas que quase sempre traz no seu bojo lições preciosas de vida. Foi assim que tive a idéia de elaborar o texto de Kyvy Mirim.

2. Quais foram suas fontes?
A versão oral das lendas.

3. Um tema muito explorado na sua obra é a cultura tupi guarani. Como foi feita a pesquisa para elaboração da obra Kyvy Mirim?
Através de velhas histórias que ouvi, quando criança, à beira do fogo nas noites frias de inverno, em Bella Vista, Paraguay.


4. O senhor trabalhava com anotações, gravações ou outro tipo de apontamento?
Somente o que ficou registrado em minha memória, e na da minha mãe e da minha avó Petrona.

5. Quanto tempo levou pra ser escrita esta obra?
Dois anos aproximadamente.

6. No texto, há predominância da prosa poética, isso veio com muito trabalho ou com “inspiração”?
O idioma guarani é onomatopaico e sua linguagem, mesmo na do dia a dia, tem um fundo poético. Faz parte da maneira de viver do guarani, elaborar sua linguagem como resultado do estado de suas emoções. A partir do momento em que “pensei” as lendas em guarani, o fluxo da linguagem poética foi automático, jorrando numa inspiração que me fazia, muitas vezes, levantar da cama, na madrugada, para registrar uma frase ou uma idéia.

7. As ilustrações foram imaginadas pelo senhor ou a ilustradora, em poder do texto, criou as ilustrações?
A ilustradora começou a esboçar seu trabalho a partir de informações detalhadas que ia lhe fornecendo em conversações prolongadas. Por algum desígnio, ela conseguia captar exatamente a idéia que eu estava lhe passando, e, assim, me surpreendia com o resultado tão exato e belo.

8. O uso da página em branco é enriquecido pela disposição do texto. Como trabalhou esta disposição?
Na época, os jogos de games, em aparelhos ainda um tanto humildes, como o Super Nintendo, dispunham as figuras em traçados um tanto geométricos: pranchas, escadas, serpentes etc. Como a proposta era editar um trabalho infanto-juvenil, com uma linguagem própria como as dos games, pensei em distribuir as frases, versos, páginas etc, como uma tela onde se estivesse jogando game. Seria a maneira visual de atrair a atenção dos adolescentes, principalmente com as ilustrações.

9. O texto é rico em recursos retóricos (aliterações, rimas, estrutura da página em branco, vocabulário elaborado, etc...). Isso foi proposital ou simplesmente foi assim estruturado?
Foi proposital, em parte pelo que já foi respondido na pergunta anterior.

10. Na obra aparecem figuras da mitologia guarani como o pombero, o próprio Kyvy Mirim e a lenda do tarumã. Assim mesmo foi ouvido em sua pesquisa ou o senhor mesclou as lendas?
Os adolescentes, e nisso eu me espelhava nos meus filhos, (também já vivi essa fase) sonham com um amor, um tanto ingênuo, mas cheio de atos heróicos. Quem sonha, na mitologia guarani, e que tem o dom de amar, é a terceira essência da alma, conhecida como Kyvy Mirim, o irmão menor, ou o caçula. No entanto, sozinho, ele produziria, para autenticidade da lenda, uma história “água e açúcar”. Eu precisava de uma figura forte e capaz de inserir suspense e magia. A lenda do Pombero era perfeita, pois ele tem o dom de se transformar em qualquer coisa para conseguir seus objetivos. Na realidade, essa lenda se originou de espiões que se escondiam muito bem, e que as pessoas, não as vendo, achavam que tinham se misturado ao meio ambiente.
A lenda do pé de tarumã também veio a calhar para o final, que reproduziu com exatidão a crença guarani de que todos os corpos enterrados renascem como uma árvore, inclusive, traduzia a linguagem amorosa do bem-querer e cuidado mesmo depois da morte.