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Aos nove anos, com a família. |
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Na liberação do livro sobre Silvino Jacques. |
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Com a camiseta do Movimento Metra. |
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Com o fardão da Academia Douradense de Letras |
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Casado com Elisângela Santos de Souza Ibanhes |
BRÍGIDO IBANHES
MEMORIAL POLÍTICO,
ADMINISTRATIVO, CLÍNICO E CULTURAL
Em 12.02.1973, concursado, tomei posse no Banco do Brasil em Bela Vista (MS); ao longo dos anos prestei serviços ao banco nas cidades de Patrocínio (MG), Santa Cruz do Capibaribe (PE), Bataguassu (MS), Sidrolândia (MS), de novo Santa Cruz do Capibaribe (PE) e no Cesec em Dourados (MS), onde resido. Em julho de 1984, em Sidrolândia (MS), fui nomeado Auxiliar do Setop (Fiscal do Setor de Operações Rurais), e, logo na primeira fiscalização, já percebi que havia algo errado, pois o volume de soja que encontrei num armazém não correspondia ao que deveria ter; no entanto, me solicitaram que constasse como regular, pois um pouco antes haviam sido retiradas algumas toneladas; isso dito pelo supervisor. Fui também percebendo, ao passar de pouco tempo, que não me colocavam na pauta nenhuma fiscalização do Proagro (Seguro Agrícola); não entendia o porquê, pois fazia parte do meu serviço. Uma vistoria que realizei para o Proagro na lavoura do sr. Ademar Antônio Marçal, que inviabilizaria o recebimento do seguro federal, foi inutilizado pelo gerente Augusto Guedes e foi enviado outro fiscal para fazer o laudo. Outros casos aconteceram para favorecer a liberação do custeio. Na agência, encontrei o setor de arquivo dos laudos todo bagunçado e comecei a colocar em ordem; ninguém gostou, pois, só mais tarde entendi que a bagunça era para dificultar que se encontrasse alguma vistoria. Ali campeava a desordem e a corrupção.
Em meados da década de 80, a
Ditadura Militar, formada também pelos políticos que lhe deram sustentação,
continuava muito forte nos bastidores financeiros e administrativos do Banco do
Brasil; a estrutura ditatorial se mantinha em funcionamento, um pouco mais
discreto talvez, mas, não menos perversa e mortal. O país era uma confusão
política e uma disputa de poder muito acirrada; percebendo a necessidade de uma
militância em prol da ética e da democracia, me filiei ao PDT brizolista. O Banco do Brasil, braço financeiro do governo federal,
servia para grupos, advindo do regime ditatorial, se estruturem politicamente,
inclusive fundando um novo partido, o PSDB, visando o poder ou para se manter
nele. O gerente da agência de Sidrolândia (MS), Augusto Guedes da Fonseca Neto
(Militar CPOR), que já fora prefeito biônico da Ditadura em Mundo Novo (MS),
fazia parte de um esquema comandado neste Estado pelo Deputado Federal Saulo
Queiroz, funcionário licenciado do Banco do Brasil, e que estava aquartelada na
Superintendência Regional, em Campo Grande, comandada pelo sr. Sirley Nogueira.
Um dos objetivos do grupo era eleger o Sr. Guedes prefeito de Sidrolândia; e,
para bancar essa pretensão e outros projetos eletivos, volumes significativos
de verbas do Proagro eram deferidos, muitas vezes com a intermediação do próprio
Deputado Saulo Queiroz junto ao Banco Central, aos grandes agricultores e
pecuaristas que participavam dos grupos que apoiavam esses interesses políticos,
em prejuízo dos pequenos e médios produtores que,
depois de amargarem uma fila imensa e demorada num famigerado caderno, quase
tudo lhes era indeferido.
Qualquer vistoria que fosse
prejudicar os grupos do esquema era, de maneira bem sutil, solicitado pelos
chefes (Supervisor Guazelli e Assistente Valfrido), ou pelo próprio gerente,
que fosse refeito; isso logo eu percebi, e, até guardei alguns laudos refeitos.
Ao ver tantos produtores serem privados dos seus direitos, inclusive, com péssimo
atendimento na agência pelo gerente, fato comprovado em relatório do Serviço
Nacional de Inteligência (SNI) que montou um dossiê à época sobre minha pessoa,
e atendendo ao que dispunham as normas do Banco (CIC Funci e CIC Administração)
quando a situação envolvia o principal gestor, entreguei, no início de 1986,
uma carta ao auditor em visita, Sr. Hermenegildo Machado da Silva, gerente de
Anastácio (MS), relatando as irregularidades que vinham acontecendo.
Passaram-se os meses e nada; concluí que a Alta Administração, em Brasília,
estava conivente com as irregularidades. Foi me dando uma angústia e
desconfiança, pois percebi que o gerente mudara seu tratamento comigo. Continuei
o meu trabalho com mais empenho, tentando coletar o maior volume possível de
informações sobre as irregularidades, pois pressentia que se aproximava uma
guerra. Não dormia e nem comia mais direito, e a depressão se instalou em mim.
Foi quando começaram os assédios
morais e torturas psicológicas. Primeiro, com uma indicação para promoção como
Assistente, que não deu certo porque ali surgiu mais um foco de corrupção do
esquema: o pedido de um novo financiamento, pelo
Fundec, para construção de uma creche que já estava construída na Vila São
Bento. Acontece que eu morava nessa vila e era uma das
lideranças do bairro. Não concordei com a situação, e me retornaram para a
fiscalização. Foi quando, para sair um pouco desse ambiente ruim, solicitei
licença-prêmio e fui efetuar umas pesquisas históricas, para fundamentar um
livro sobre o mistério em Volta Grande, no oeste de Santa Catarina, bem longe
dessa agência que já me trazia muita apreensão e opressão. Mesmo lá, porém, fui
perseguido. O Sr. Guedes entrou em contato com o gerente do Banco em Chapecó
(SC), sr. José Campigotto, que determinou que a polícia me escoltasse até um
hospital para fazer exame mental; foi mais um momento de grande humilhação. Em 08.12.87, estando ausente, fui destituído do cargo de
fiscal, mesmo sendo o mais graduado entre os demais. Em meados
de 88, ano em que aconteceriam as eleições para prefeito e vereador, fui
chamado à gerência, e, o gerente, Sr. Guedes, na frente do prefeito, Sr. João
Lemes de Souza, e de um dos sujeitos mais ricos do município, Sr. Olinto
Comparim, me fez a proposta para me candidatar a vereador. Na hora, deixei a
entender que seria possível, mas que, dentro de alguns dias daria a resposta
final. Ao final da reunião, o Sr. Olinto me abraçou e disse que poderia me
considerar eleito, desde que ficasse com eles. O gerente mandou distribuir pela
agência umas trovas em que se enaltecia a minha candidatura. Passados dois
dias, retornei à gerência e lhe disse que não dispunha de dinheiro para bancar
nenhuma campanha política; foi quando me revelou
que o refinanciamento da creche daria os recursos necessários, pois já estava
tudo combinado. Ao tomar conhecimento disso, recusei a proposta,
e o gerente quase enfartou na minha frente, pois percebeu que havia falado
demais. Mandou chamar o sr. José Hauser, presidente da Associação da Vila São
Bento, para que eu desmentisse um recado seu, e, como não desmenti, virei as
costas e me afastei e escutei ele me chamando de “bugre atrevido”. No
dia seguinte à negativa da candidatura, ao chegar ao banco, fui chamado à
gerência, e o Sr. Guedes mandou colocar uma pequena mesa de fórmica, no
banheiro da gerência, e me manteve ali sentado durante todo o expediente, lendo
as normativas, por dois expedientes. Foi quando apareceu o jornalista Euricles
Cavalcante Macedo, avisado por mim à noite, acompanhado de agentes federais e
me retiraram dessa situação humilhante dentro do banheiro, onde era obrigado a
conviver com o deboche dos colegas, além do ambiente fétido. Logo depois recebi
da Direção Geral de Brasília uma penalidade de “Advertência”, na tentativa de
me calar. Não fui preso numa cela do DEOPS, nem
torturado num pau-de-arara, mas, arbitrariamente, fiquei preso num banheiro,
onde sofri torturas psicológicas. Muita gente me aconselhava: “toma
cuidado, para não acabar como o fiscal Passarinho (apelido)”, que foi morto
por ter denunciado corrupção no Proagro. Saindo dessa prisão, o gerente
determinou que eu ficasse confinado no almoxarifado, efetuando trabalho de
contínuo, arquivando papéis etc. Foi quando descobri que, através de remessas
contínuas de correspondências, solicitava tráfico de influência ao deputado
Saulo Queiroz (PFL) para que intermediasse o pleito dos proagros junto ao Banco
Central; tirei cópias.
O jornal “Versátil”, sob
total controle dos líderes do esquema, tripudiava sobre a minha pessoa, me
chamando de fera, louco, mequetrefe, estelionatário, mentiroso, caluniador,
difamador, com atitudes espúrias e outras qualificações. Tudo isso acontecia
com a complacência da Superintendência e da Direção Geral do Banco, pois, o
correto seria que, a Direção Geral, em Brasília, tomando conhecimento das
denúncias que entreguei ao Inspetor Hermenegildo, tomasse providências para que
o gerente fosse afastado e baixasse na agência nova auditoria para uma devassa
no Proagro. Mas, nada disso aconteceu. Como
funcionário eu havia cumprido as normas do Banco e, por isso, fui punido e
sofria tentativas de desmoralização; mas, toda a comunidade sabia onde residia
a verdade. Os fatos repercutiram forte quando aparecem dois
jornalistas, que me procuraram para tratar de uma pesquisa no oeste de Santa
Catarina. Um deles, J. Júnior era agente do SNI, e eu não sabia; só fui
descobrir depois, quando ele marcou um encontro com o Comandante Regional,
Coronel Fontoura, daquele órgão, em Campo Grande. O encontro aconteceu numa
sala do Diário da Serra, e, depois que o coronel tomou conhecimento da
situação, me perguntou por que eu havia feito as denúncias; respondi-lhe que
vivíamos num Brasil muito rico e belo, e que não merecia esses tipos corruptos
de agentes públicos; pediu, então, que eu ficasse em pé e me deu um forte
abraço; o jornal, sob a gerência do sr. César Quintas Guimarães, ficou de
preparar e divulgar uma ampla matéria sobre o caso, mas, pouco depois ligou o
Deputado Ary Rigo pressionando para a não publicação da matéria. Na sequência, no prédio do jornal, apareceu o Deputado
Federal Ghandi Jamil George, com seus jagunços e uma mala com dinheiro, e a
matéria não saiu (esses fatos estão descritos no dossiê do SNI).
Tivemos, eu e o Sr. José Hauser, presidente da Associação da Vila São Bento,
que sair correndo escondidos, como bandidos, e assim voltamos para Sidrolândia.
O outro jornalista, Sr. Euricles Cavalcante Macedo, pegou a matéria e foi publicá-la
na Folha de Londrina, em 13.07.88. A partir daí, a pressão subiu muito, pois
políticos importantes se mexiam para abafar o caso. Fui chamado à
Superintendência do Banco do Brasil, em Campo Grande, e o Sr. Sirley tentou
fazer a minha cabeça com outra história sobre o empréstimo do Fundec, mas não
deu certo, pois os documentos provavam o contrário. Fui então enviado,
primeiro, para o Ceasp (Centro de Assistência ao Pessoal) do Banco do Brasil,
em Campo Grande, para uma avaliação psicológica com a Dra. Maria Lourdes
Ziollcowski, e depois enviado para o Ceasp de São Paulo, para avaliação pelo
Dr. Antônio Carlos Beltrani Oliveira; os laudos apontavam que as perseguições e
as humilhações sofridas já haviam feito um estrago no meu estado psicológico.
Sentia muita dor na coluna,
cefaleia, e saía uma espécie de liquor pelo meu nariz quando me abaixava; fiz
exames de tomografia computadorizada e cintilografia, que nada detectaram, pois
a causa dos males era a profunda depressão, que era causa de intensa sudorese e
mal-estar nas madrugadas.
Na agência em Sidrolândia a
situação piorou, e muito. O gerente me colocou, ao meu retorno das férias que
pedi, na rua; só podia entrar no banco até a plataforma onde teria que assinar
o ponto e ir embora. Ao invés do Banco
tomar uma atitude de real apuração dos fatos denunciados, Brasília enviou para
a agência o auditor Sr. Jair Ferreira da Costa. Este me encheu de perguntas, e,
nas respostas detalhei as denúncias; bastava ele apurar os fatos, pois ali
estavam citados nomes e as irregularidades. Mas, ao invés de cumprir com suas
obrigações, esse auditor permitiu que, no recinto do banco, onde eu tratava de
lhe comprovar as denúncias, adentrasse na sala o vereador David Moura de
Olindo, Presidente da Câmara Municipal de Sidrolândia, e líder importante do
esquema todo, que me perguntou quanto eu queria para parar de mexer com esses
papéis. Tentativa descarada de suborno, dentro do
Banco. Discretamente o auditor saiu da sala, para permitir uma
livre negociação. Além de recusar o suborno, lhe passei um tremendo carão, pois
na campanha ele havia prometido uma lavanderia comunitária. Minha paciência
estava se esgotando com tantas tramoias. Aquele auditor havia sido enviado para
colocar panos quentes na situação e me punir, conforme afirmado mais tarde em
relatório pela Alta Administração do Banco.
A partir daí passei a ser
monitorado, ora por gente que amanhecia na esquina de casa, ora por um carro
preto que me seguia à noite. Ocorreu uma
tentativa de sequestro do meu filho, com menos de um ano, e foi
quando liguei para a Direção Geral do Banco, em Brasília, e lhes informei que,
a partir desse momento, não respondia pelos meus atos caso atentassem contra a
minha família. Ao sair de uma quitanda, fui abordado por um desconhecido, com
cara de jagunço, que exigiu que eu lhe desse carona até o entroncamento para
Maracaju; a muito custo consegui me livrar dele. Mas, não consegui me livrar dos pistoleiros que me tocaiaram na
casa do Professor Antônio Lopes Lins, presidente da Academia Sul-Matogrossense
de Letras, cujo endereço em Campo Grande foi declinado pelo gerente; depois de
uma conversa muito áspera foram embora. O motivo de estar
naquela noite na casa do Professor Lins era que a TV Morena pretendia gravar
uma matéria comigo sobre o livro “SILVINO JACQUES, o último dos
bandoleiros”, prefaciado pelo ilustre acadêmico, e em que era relatado
a formação dos latifúndios na região sul do antigo Mato Grosso através do uso
da violência. A obra seria lançada no dia seguinte, e a ameaça dos pistoleiros
era de que se assim o fizesse, o evento ia acabar
à bala, ao que retruquei que os convites já estavam entregues e
eu não poderia voltar atras. O juiz de Sidrolândia, ao saber do ocorrido,
determinou ao delegado que fosse colocada uma patrulha ostensiva na AABB, onde
ocorreu o lançamento na noite gelada de maio de 1986. Como as ameaças não
surtiram efeito, o grupo político interessado na não divulgação dessa história,
conseguiu uma liminar de busca e apreensão da obra, o que ocorreu em setembro
daquele ano. Por longos seis anos tive que me debater em juízo, até que, no
Tribunal de Justiça do Estado, por força da nova Carta Magna, consegui o
direito à publicação do livro, e assim me tornei
referência como defensor da liberdade de expressão e a obra como referência da
região Centro-Oeste conforme o Atlas Literário do IBGE em 2017.
O gerente, Sr. Augusto Guedes, R2
do Exército e amigo de agentes federais e pistoleiros de um esquadrão de
extermínio que à época agia no Estado, ainda tentou me armar uma situação de
perigo na Superintendência da Polícia Federal, em Campo Grande, de onde
pretendiam sumir comigo. Mas, como registrei minha presença logo na chegada, a
coisa não funcionou. O escrivão Caetano me manteve na
sala do cartório até a chegada de um tal de agente Rocha, que me garantiu a
armação e me levou para fora, quase me botando para correr. Tudo isso
ocorria com a complacência da Direção-Geral de Brasília, que providenciou para
que eu fosse indiciado no DEOPS, para a abertura do Processo Crime nº 166/89
contra mim por calúnia, injúria e difamação. Condenado fosse nesse processo,
seria expulso do Banco, além de perder toda a minha credibilidade. A situação
estava insustentável, e assim me ofereceram transferência para Aral Moreira ou
Porto Murtinho, duas cidades da fronteira com o Paraguai; nascido na fronteira,
recusei, pois sabia que era sentença de morte.
Foi quando fui chamado em Campo
Grande, na Agência Central, onde, por telefone, o Sr. José Carlos da Conceição,
Chefe do Direc – Brasília (DF) me deu quinze minutos para pedir transferência
para qualquer lugar do país; não podia mais ficar no Estado, e caso não solicitasse a transferência seria demitido
sumariamente. Na transferência não me deram dias de trânsito,
como determinavam as normas, muito menos pagaram as despesas com a mudança,
além do absurdo de me desligarem da agência de Sidrolândia (MS), ao final do
expediente em 15.05.89, tendo que assumir na agência em Santa Cruz do
Capibaribe (PE), no dia seguinte. Isto é, eu teria que me locomover 3.300 km
numa noite. Tive que gastar quatro abonos-assiduidade, isto é, todo o prejuízo
era meu. Como despedida, Brasília me aplicou a penalidade “Severa Censura”, que não me permitiria ocupar
cargo de comissão por anos a fio, além de me colocar a um passo da demissão.
Em todos esses anos, mesmo pisado
e massacrado, não deixei de fazer as tarefas que me eram delegadas, mesmo as
mais humilhantes. Eu não podia levar o Banco à justiça, pois isso, conforme as
normas ainda vigentes da Ditadura, seria motivo de demissão. Eu tinha que me manter firme, na esperança de
que um dia o Banco reconhecesse a verdade e resgatasse a minha dignidade,
reconhecendo o meu esforço como bom funcionário. Mas,
isso nunca aconteceu, pelo contrário. Todos os requerimentos que eu
enviava a Brasília, seja sobre o cargo perdido, seja sobre a transferência
arbitrária, ou seja, a respeito das penalidades aplicadas injustamente, todos retornavam indeferidos sumariamente, sem
nem constarem o motivo da negativa nas lacônicas respostas.
Minha saúde piorou muito, pois
era obrigado a viver numa penúria financeira e social, numa cidade do sertão
nordestino, onde nunca chove e tudo é complicado. Fui enviado, em algumas
ocasiões, para exames de saúde em Recife, mas nada aliviava meu desconforto com
uma cefaleia que se tornava crônica. Para piorar, nossa agência foi assaltada
duas vezes pela mesma quadrilha do chamado “novo cangaço”, e, através do meu
depoimento, o delegado conseguiu prender o chefe do bando, em Brasília. O
criminoso era parente do prefeito de Jataúba (PI), cidade próxima, o que
significava grande perigo contra a minha vida. Em nenhum momento o Banco me
concedeu proteção, e tive que ir pessoalmente a Brasília, expor o perigo da
situação à Presidência do Banco, e só depois permitiram que eu retornasse a
Mato Grosso do Sul, transferido para o Cesec de Dourados. Era o final de 1990.
No Cesec não me deram vida fácil.
Em 1991, para fugir das minhas angústias, ajudei a fundar a Academia Douradense
de Letras (ADL), de que fui o primeiro presidente eleito; posteriormente obtive
mais dois mandatos, de 2008 a 2010, e de 2010 a 2012, quando criei a inédita
ADL-Jovem; por problemas de saúde, me recolhi das atividades públicas. Em
30.10.91 fundei o Movimento de Moralização e
Ética no Trato da Coisa Pública (METRA) que, por anos, pela
manhã dos sábados, se fazia presente na Avenida Marcelino Pires, em frente ao
Tat Lanches, com a “Banquinha da Luta contra a
Corrupção Política” pregando a conscientização política e se
fazia representar nos tribunais contra o mau uso dos recursos públicos feitos
por gestores corruptos. Participou, juntamente com outras entidades, como o Movimento
Popular das Mulheres e Comitê Regional de Defesa Popular, de manifestações a
favor dos interesses dos trabalhadores e da população em geral. O METRA foi a
única entidade deste Estado que participou ativamente da campanha contra a fome
liderada pelo saudoso Betinho. Em 1996, o Metra levou ao ar a primeira rádio
comunitária da região: a FM TERERÊ, que funcionou por um período
com alvará da Justiça Federal. Também editou o hebdomadário O BRASILEIRO,
que, por falta de recursos, não pode passar da terceira edição.
Volta e meia, tinha que me
afastar para tratamento de saúde; foi quando tratei da cefaleia que quase me
paralisava em alguns momentos. Foi constatado problema na coluna, fruto da
situação psicossomática. Comecei a ter problemas cardíacos e quase vou parar na
mesa de cirurgia; com a ambulância na porta me esperando para me levar ao
centro cirúrgico, o Dr. Luiz, de uma clínica, em Campo Grande, onde fui pedir
reavaliação do quadro, se opôs ao procedimento e então fui dispensado. Sempre
desconfiei que algo trágico pudesse acontecer nessa cirurgia.
Aí surgiu nova situação
estressante. Em 15.03.91 fui nomeado suplente de delegado sindical, e, no
Cesec, eram cometidos todos os tipos de irregularidades, desde horas extras não pagas a aliciamento de estagiários
para testemunharem a favor do Banco em juízo. Como era meu
dever, como funcionário e como sindicalista, levei as irregularidades novamente
para a auditoria, acreditando que, finalmente, meu empenho em manter uma imagem
limpa do Banco ia ser reconhecido. Ledo engano. Recrudesceram as perseguições e
humilhações, unidos agora os antigos e os novos algozes. Meu estado de saúde deteriorou muito e passei
a fazer tratamento psiquiátrico com o Dr. Samuel Pires Passos, a partir de
30.06.92, e sessões de análise com a psicóloga Cláudia Regina de Oliveira Lima,
credenciada pela Cassi – Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do
Brasil. Nesse ano, para fugir das pressões no trabalho, saí candidato a
vereador pelo Partido dos Trabalhadores; não fiz campanha, pois não pretendia a
eleição, apenas ajudei a formatar o programa de governo para o partido. Logo
depois da campanha, tive que tirar férias vencidas para não se acumularem duas. Durante a minha ausência, decidiram como me pressionar, e,
quem sabe, me levar a um ato impensado e que poderia gerar a minha demissão.
Ao meu retorno, no mesmo dia, o Supervisor Paulo César Colombo, porque me
demorei no banheiro, chamou seu Assistente e duas testemunhas, e, na frente de
todos, me chamou a atenção para me humilhar; expliquei-lhe que estava com dor
de barriga; isso acontecia toda vez que eu adentrava algum recinto do Banco. Eu
percebia que a minha saúde não suportava mais o trabalho no Banco, e solicitei
então, ao Chefe do Cesec, Sr. Ivaldo Luiz Quadros do Couto, para efetuar uma
consulta médica. O Dr. Samuel, ao tomar conhecimento dos fatos, em 03.11.92, me
afastou imediatamente do serviço, afirmando que eu não tinha mais condições de
trabalho, pois eu faria, ou fariam comigo, uma grande besteira, por conta da
exasperação depressiva de que estava tomado. E foi assim que, em 04.11.92,
entrei em licença-saúde. O psiquiatra me orientou que me dedicasse aos
meus trabalhos literários e à luta pela cidadania através do Movimento METRA,
como uma terapia; foi o que fiz com muito empenho, mas até isso o Banco chegou
a contestar no inquérito depois.
Em 20.11.92 a Promotora de
Justiça, Dra. Teófila Almeida Arruda, no Processo Crime iniciado pelo DEOPS, pede a minha absolvição, numa argumentação de
que o processo apenas serviu para as pretensas vítimas como uma autodefesa
prévia. O juiz pede estranhamente a
extinção do feito por prescrição. Eu pretendia usar a minha declaração de
inocência como um meio de provar ao Banco de que as minhas denúncias tinham,
sim, fundamento. Mas, até isso me foi negado; era a
justiça blindando a bandidagem. Encaminhei cópia do texto da
promotora e da sentença do juiz para Brasília, para comprovar minhas boas
intenções; nem se manifestaram sobre o caso. Pedi,
então, cópia de todos os inquéritos contra mim; não me atenderam.
Começaram as perícias médicas,
feitas por médicos do Banco, no Ceasp de Campo Grande, validadas para o INSS, e
em que ficaram comprovados os efeitos danosos a minha saúde que me foram
causadas por tanta perseguição e humilhação. Essas perícias e o tratamento com
o Dr. Samuel, o Banco tinha que parar. Em 14.04.93, o Banco me encaminhou para
o Ceasp de São Paulo, onde me mandaram para uma consulta com o psiquiatra
clínico e forense do Hospital das Clínicas, Dr. Sérgio Paulo Rigonatti, que
atestou meus distúrbios emocionais e informou que eu
precisaria de um tratamento de longa duração.
O Banco, ao invés de acatar a
orientação médica, armou uma “alta” do INSS, em 04.05.93, e em 05.05.93, isto
é, no dia seguinte, me colocou sob inquérito administrativo. A incoerência da
“alta” salta aos olhos: o Dr. Jair de Jesus Alves, pediatra, diz na sua perícia
psiquiátrica que, em 04.05.93, estava incapacitado para o trabalho, e que, na
mesma data, cessa a incapacidade. Só por Deus para aceitar tanta barbaridade.
Pedi cópia de todos meus prontuários médicos, mas nem me responderam. Eu
entendia que quem detinha a capacidade de me dar alta era o médico que havia me
afastado do serviço, e nenhum outro.
O inquérito foi uma farsa;
colocaram-me numa sala da chefia, com a cara
voltada para a parede, com dois colegas posicionados constrangedoramente a
pouca distância, às minhas costas, e ali tinha que responder,
por escrito, às perguntas formuladas sobre o Movimento Metra, sobre meu passado
de luta, sobre tudo, menos sobre algum mau desempenho funcional; pois, eu
entendia que a minha relação com o Banco era simplesmente de contrato de
trabalho. Mas, mesmo assim comprovei as denúncias feitas. De nada me valeu, porque
o Banco apenas estava protelando para, no momento oportuno, me demitir.
Em 04.10.93 fui chamado à Chefia,
e, em frente a testemunhas, a Chefe-Adjunta, Sra Cínthia Alves Lima, me pediu a
identidade funcional e me entregou a carta de demissão, onde nem se deram ao
trabalho de constar se era por justa ou sem justa causa, muito menos os motivos,
que eram obrigatórios pela lei e pelas normas do Banco. Passaram por cima da
minha estabilidade sindical, garantida pelo Art. 543 da CLT, até 15.03.94. Vinte
e um anos de carreira destruídos, jogadas no lixo, em minutos. Foi-me negado o
direito elementar de conhecer dos meus inquéritos administrativos, obrigando-me
a recorrer à justiça, através de uma Cautelar de Exibição de Documentos, para
onze anos depois, conhecer o conteúdo parcial dos mesmos. Ao juiz, alegaram que
os dossiês médicos não foram encontrados. Quanto aos inquéritos da perda da
comissão de fiscal, e da aplicação das penas de “advertência” e “severa
censura” nunca existiram; foram atos arbitrários, dignos da ditadura
militar. Tanto isso é verdade que, anos depois da
sua aplicação, a “Severa Censura” foi simplesmente anulada, depois de haver me
causado graves prejuízos na carreira.
Mas, o Banco tinha que ser mais
cruel comigo, mesmo demitido, pois eu tinha que servir de exemplo, de um
castigo bem aplicado. Foram me pagas as verbas rescisórias todas erradas, a
menor, é claro, e nos meses seguintes me debati para provar isso e receber o
mínimo de direito; até no FGTS faltava quase a metade de anos e anos de
depósitos. Consegui comprovar tudo, e recebi o que me cabia de direito. O
desejo de Justiça me movia, e, apesar do profundo poço em que fui jogado, tirei forças junto a minha fé em Deus para buscar recursos
vendendo meus livros em sacolinhas de plástico, muitas vezes pegando carona
para outras cidades. Recebi também o apoio e ajuda de pessoas que conheciam a
minha história, a quem agradeço de coração. Tornei-me
ativista cultural, e assim ajudei a organizar o I Fórum de Cultura de Dourados
(MS), em 1999, e no segundo fórum fui eleito conselheiro municipal de cultura,
e logo a seguir comecei a participar, em Campo Grande, do Fórum Estadual de
Cultura, de cuja Executiva fui membro eleito. Em 2008, aos sábados pela manhã,
instalei, por cerca de dois anos, em frente ao Tat Lanches a “Banquinha do Livro, Leitura e Literatura”,
quando interagia com as pessoas para que dessem exemplo de leitura aos filhos e
negociava também as minhas obras.
Em início de 1997, o médico, Dr.
Leidniz Guimarães, vendo as dificuldades pelas quais passava, me acudiu e me
orientou, haja vista que eu detinha direito para tanto como segurado, para
solicitar perícia junto ao INSS. Foi, então, constatada minha deplorável
situação de saúde emocional e de outros males que já se instalaram em mim por
conta de tamanha frustração e tanta injustiça. Em 1.999 fui aposentado por incapacidade
laboral, que o Juiz Federal, Dr. Odilon de Oliveira, mandou retroagir a
06.05.94, com início da incapacidade laboral como bancário em 04.11.92; isto é,
na vigência do contrato de trabalho e na sequência da minha demissão. O Banco, em pleno tratamento médico, havia me demitido, e
dentro do período de estabilidade por representação sindical.
Levei as denúncias das
apropriações indevidas do Proagro dos pequenos e médios produtores e da
tentativa de uso do refinanciamento da creche na Vila São Bento, em
Sidrolândia, para fins políticos à Procuradoria-Geral da República, que
determinou à Polícia Federal a abertura de inquéritos, quando fui, então,
ouvido.
Todos os inúmeros
recursos administrativos enviados ao Banco para que me fossem revistas a
demissão, as punições, a remoção arbitrária para o Nordeste, todos foram
laconicamente negados. Cartas, clamando por justiça, que foram enviadas, nessa
época, e em épocas anteriores a autoridades políticas, à CPI da Corrupção do
Senado, à CPI do Banco do Brasil na Câmara dos Deputados, aos Presidentes
Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, à ONU, ao Pen Club International, ao
Ministro Oscar Correa, e redirecionadas por elas ao Banco do Brasil, nem
mereceram manifestação. Só o Pen Club International, que havia me adotado em
1992 em cerimônia no Rio de Janeiro (RJ) por conta das ameaças e perseguições
devido à publicação do livro sobre o bandoleiro Silvino Jacques, foi que
intercedeu por mim junto ao governo brasileiro pedindo segurança e justiça.
Também o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a Ministra, na época, da Casa
Civil, Sra. Dilma Rouseff, solicitaram, ao encerramento dos seus mandatos, à
Comissão de Anistia, onde eu conseguira abrir um processo em 2004, que revisse
a perda da comissão de fiscal, ocorrida antes da promulgação da Constituição de
88. O Banco, então, me enviou um memorando, em 2010, afirmando que aguardaria a
sentença daquela Comissão, para rever o meu processo. E o tempo foi passando, e
o Banco, mais uma vez, com muita má vontade, enrolando, “pra ver a morte
chegar”, como diz a canção. Em 11.09.2015, a Comissão de Anistia (MJ),
emitiu Nota Técnica, de que há pouco tempo atrás finalmente tive acesso, em que
orientou o seu arquivamento, e onde está dito que “a perda do
cargo em comissão ocorreu em razão de o requerente ter denunciado esquema de
corrupção na sua instituição de trabalho.” O próprio governo reconhece que as denúncias que fiz dos
desvios de verbas do Proagro e do Fundec tinham fundamento e que agi
corretamente ao fazê-los. A Nota
conclui, de maneira espúria, que não há reparação política a ser feita.
Mesmo o Banco expressando dubiamente
a possibilidade de rever a minha carreira, não confiei mais nessa instituição. A
moradia que adquiri com financiamento da Previ foi executada, mesmo estando a pagar as parcelas na época, já
foi a leilão por duas vezes; na primeira vez, tomado por desespero, fiz greve
de fome na frente da Câmara Municipal de Dourados, e assim, com a ajuda de
pessoas que conhecem a minha história e me são solidárias, consegui evitar não
ser jogado na rua, considerando que recebo uma aposentadoria que mal dá para
pagar as contas da casa. A perda da minha comissão como fiscal e suas
consequências retiraram parte significativa dos meus proventos, de uma carreira
que poderia ter chegado a gerente no exterior ou a auditor. O segundo leilão
foi sobrestado porque um oficial de justiça tentou me envolver num esquema que
ficou conhecido como da “Máfia da Arrematação”,
em que imóveis eram arrematados por preço vil e negociados com autoridades
recém chegadas à Comarca de Dourados (MS). Neste
momento, outro leilão se aproxima, e estou me debatendo para não perder de vez
o meu imóvel, único patrimônio que sobrou dos 21 anos de bons serviços
prestados ao Banco do Brasil, além do que ser jogado na rua, nesta idade e
nestas condições de saúde, é uma sentença de morte, com certeza.
Em busca de uma justiça eficaz, passaram-se
anos e anos de lágrimas, de perseguições, de humilhações, de sofrimentos e de
transtornos da saúde. Como dói ter a consciência de que se agiu honestamente,
tendo as ações corretas reconhecidas em processo pela Promotora Teófila Almeida
Arruda, reconhecidas com notícias sobre fraudes no Proagro amplamente
divulgadas em jornais, e até por relatórios do antigo SNI, e que se fez tudo
dentro de uma ética profissional, e que, por isso se é punido, discriminado e
colocado na rua da amargura e da miséria, algumas vezes tendo que tirar o pão
da boca para dar aos filhos; colocado no desamparo, na expectativa da morte,
demitido da carreira, que tudo indicava poderia ser brilhante. Como dói cumprir
as normas de uma empresa, receber boas avaliações, cumprir religiosamente com
as obrigações, e, ao mesmo tempo, essa empresa o humilhar, o achacar, o
assediar moralmente, causando-lhe um quadro psicossomático gerador de inúmeras
e graves doenças. Como dói deitar a cabeça no travesseiro e, no dia seguinte,
levantar com uma obsessão martelando na cabeça, a de que será mais um dia para
se lembrar de todos os achincalhamentos praticados contra si. Como dói acordar constantemente na madrugada tendo sonhado
que se estava retornando ao ambiente do Banco, e perceber que, na verdade, se
viveu um pesadelo. Como dói
reconhecer que, passados mais de trinta anos, a empresa, pela qual você lutou
tanto para lhe preservar a imagem, continua debochando dos seus apelos,
insensível, e lhe mantendo no ostracismo, nem mesmo lhe permitindo uma morte
digna. Como dói permanecer por anos na expectativa de uma sentença judicial que
possa lhe afirmar que finalmente a justiça será feita, mas, quando ela é
publicada, o que se toma conhecimento é de que o relator,
desembargador Josué de Oliveira, no seu relatório, simplesmente reproduziu
palavras de impropérios e difamações propaladas
pela poderosa instituição financeira oficial contrária. O que levou a esse juiz
agir assim? Estava implicado na Máfia da Arrematação, sob acompanhamento do seu
colega, desembargador Eduardo Machado? Como dói
saber que a denúncia que fiz ao Ministério Público Federal, em 1994, sobre a
corrupção no Proagro e no Fundec, passados muitos anos, descubro que o inquérito
dos desvios do seguro agrícola foi extraviado, e que ninguém sabe onde se
encontra, e que o do financiamento espúrio da creche já construída na Vila
São Bento virou papel picado e jogado fora; como dói esses descasos das
autoridades para salvaguardar os interesses da população em geral e não só das
elites. COMO DÓI TUDO ISSO!
A dor, no entanto, seria bem
maior ainda, produzida por um violento atentado a
bomba incendiária. Quando, em 14.05.06 divulguei artigo
relatando a corrupção no Proagro e Fundec, naquela fatídica noite do Dia das
Mães, minha casa foi alvo de um coquetel molotov, e, eu e a minha esposa
Elisângela, que estávamos na sala, não morremos porque a mão de Deus colocou
sobre nós uma coberta que nos protegeu em parte.
Sofri graves queimaduras nos pés e a minha esposa teve suas mãos dilaceradas.
Lutamos muito para nos recuperar, mas o trauma psicológico permanece e as
sequelas dos ferimentos desgastaram a minha saúde de tal forma que hoje mal
consigo caminhar e sinto muita falta de ar. O inquérito policial (IP 256/2006)
não chegou a nenhuma conclusão, apesar dos nomes de políticos, empresários,
advogados etc. que foram qualificados como possíveis autores; depois de seis
anos, quando representei por inércia contra a Promotoria Criminal, João
Linhares Júnior, no Conselho Nacional do Ministério Público, o inquérito, por represália com certeza, foi enviado ao
arquivo morto. Na impossibilidade de se matar a vítima, mata-se
o inquérito.
Enganam-se aqueles que acreditam
que a Ditadura não exista mais; ela está camuflada, firme e forte, em quase
todas as instituições e poderes. A Ditadura ultrapassou o marco legal e ainda
hoje alcança seus inimigos onde quer que esteja. E, quando me refiro à
Ditadura, não me refiro só aos militares, mas aos carrascos civis também,
políticos e agentes públicos que não sabem conviver com a democracia.
A Comissão Estadual da Verdade,
Memória e Justiça, a quem prestei depoimento, registrou estes fatos e assim está comprovado que continuo há décadas preso na
masmorra da Ditadura. E que se saiba que, se os políticos que
contactei, bem como a CPIs do Congresso Nacional, TIVESSEM ME DADO OUVIDOS EM MEADOS DE 1980, HOJE TALVEZ NÃO ESTARÍAMOS,
QUEM SABE, VIVENDO OS HORRORES DESTE GOVERNO QUE É UM RESQUÍCIO DA OPRESSÃO DA
DITADURA E AMEAÇA EXPLÍCITA À DEMOCRACIA. POIS FOI AQUELE DINHEIRO DESVIADO QUE
MANTEVE VIVA A CHAMA QUE AQUECEU E CHOCOU O OVO DA SERPENTE QUE HOJE ESTÁ NO
PALÁCIO DO PLANALTO.
Espero que hoje possam me ouvir,
mas duvido muito.
Este relato foi elaborado em maio de 2014, e foi atualizado em 17.03.2022, e serviu para meu testemunho junto à Comissão da Verdade, Memória e Justiça instalada em Campo Grande (MS) em 16.05.2014. Os fatos pérfidos nele narrados, mais as degradantes e longevas pendengas judiciais, que foram muitas e que não menciono nesta narrativa, pois se tratam mais de argumentações técnicas afeitas aos operadores do direito. estão detalhadas e devidamente comprovadas na admissibilidade do Caso 13.906 da COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS/ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (CIDH/OEA), que ora chega ao momento de busca e tentativa de promoção da JUSTIÇA, com a aplicação do devido “remédio eficaz”. Como meu patrono no caso atua a Defensoria Pública da União, através da Coordenação de Apoio à Atuação no Sistema Interamericano de Direitos Humanos (CSDH/DPU).
Será feita a JUSTIÇA? NÃO SEI.
Rua Hilda Bergo Duarte, 1627 – Vila Planalto
79826-090 – Dourados (MS)
Telefone (67) 3038-5320 / 99665-6563
E-mail: jasyjatere@terra.com.br
CRONOLOGIA DOS FATOS
Janeiro de 1986 – Carta encaminhada ao auditor, sr. Hermenegildo, com
denúncia das irregularidades no Proagro.
30.05.86 – Lançamento do livro “SILVINO JACQUES, o último dos
bandoleiros”, que relata a formação dos latifúndios no sul do antigo Mato
Grosso através do uso da violência e terrorismo.
Setembro de 1986 – Busca e apreensão dos exemplares do livro.
26.10.87 - Avaliação de Desempenho Funcional (ADF) feito na agência de
Sidrolândia (MS) e que demonstra que era um bom funcionário.
08.12.87 - Dispensa do cargo de fiscal, por iniciativa do gerente da
agência, sr. Augusto Guedes da Fonseca Neto, devido a denúncia de várias
irregularidades praticadas por ele com verbas do Proagro e do Fundec.
26.01.88 - Comunicado direto à Auditoria do Banco do Brasil das
irregularidades.
19.04.88 - Expediente interno com circulação proibida pelas normas,
pois aborda política partidária (criação do partido PSDB) e levanta suspeitas
contra inspetores do Banco Central.
22.04.88 - Comunicado à Polícia Federal de mau uso e de desvio de
verbas da União.
28.04.88 - Confirmação das irregularidades pela Associação de Bairro
onde deveriam ser aplicadas as verbas conforme pedido da própria comunidade.
03.06.88 - Aplicação da penalidade de “Advertência”, na tentativa de me fazer calar.
08.06.88 - Correspondência do gerente da agência de Sidrolândia (MS) ao
deputado Saulo Queiroz para “examinar”
proagros no Banco Central, numa demonstração clara de tráfico de influência.
13.07.88 - Matéria na “Folha de
Londrina” sobre as irregularidades.
11.08.88 - Comunicado à CPI da Corrupção do Senado Federal das
irregularidades e da violação de direitos humanos, pois o gerente me manteve
preso por dois dias no banheiro, como punição por ter feito as denúncias.
14.09.88 - Interpelação escrita pelo auditor Jair Ferreira da Costa, no
início da inspeção, na tentativa de abafar e amenizar as denúncias. Nos dias
seguintes continuaram as interpelações, aos quais eu respondi também por
escrito.
20.09.88 - O gerente paga, por ordem do auditor, dinheiro que me devia
há muito tempo.
02.12.88 - Comunicado à Polícia Federal da tentativa de suborno feito
pelo vereador David Moura de Olinda, Presidente da Câmara Municipal, na sala do
auditor Jair Ferreira da Costa.
12.12.88 - Relatório médico feito no Ceasp de São Paulo (SP), onde se
comprova que devido às pressões no trabalho começo a sofrer de stress e
depressão.
03.04.89 - O primeiro requerimento de transferência, sob pressão, para
Pernambuco, mas que foi negado porque eu pedia ajuda para a mudança.
04.04.89 - O segundo requerimento de transferência para Pernambuco, sob
pressão de ser demitido sumariamente pelo sr. José da Conceição, do Direc, caso
não o fizesse. O Sr. Alcir de Souza Araújo, sindicalista, foi testemunha da
ameaça. O requerimento foi protocolado na agência do BB em Campo Grande (MS).
09.04.89 - Denúncia das perseguições e apelo ao Ministro da Justiça,
sr. Oscar Dias Corrêa. Não tive resposta ao meu apelo.
27.04.89 - Aplicação da Penalidade de “Severa Censura” ao mesmo tempo que era transferido para Santa Cruz
do Capibaribe (PE).
29.05.89 - Despesa da mudança paga do meu bolso.
27.06.89 - Recurso encaminhado à Direção Geral em Brasília (DF).
13.09.89 - Requerimento de dias de trânsito, negado pela agência.
15.09.89 - Requerimento de dias de trânsito encaminhado à Direção
Geral.
26.09.89 - Indeferimento do pedido datado de 15.09.89. É impressionante
observar que todos os meus requerimentos eram indeferidos numa demonstração
clara de perseguição.
19.10.89 - Indeferimento do recurso datado de 27.06.89.
20.03.90 - Recurso encaminhado à Presidência do Banco do Brasil.
01.06.90 - Ficha de Acompanhamento de Desempenho Funcional que
demonstra que eu continuava sendo um bom funcionário.
15.06.90 - Indeferimento do recurso datado de 20.03.90
14.09.90 - Novo requerimento de cancelamento das penalidades,
encaminhado pela agência, com parecer sobre a atuação funcional.
19.11.90 - Matéria publicada no jornal “Correio do Estado” comprovando, em Campo Grande (MS), as
irregularidades no Proagro, cuja denúncia já havia feito em Sidrolândia (MS).
05.03.91 - Apelo ao Presidente da República Fernando Collor de Melo. Eu
havia conseguido transferência para o Cesec de Dourados (MS) por ter
identificado o chefe da quadrilha que havia assaltado a agência do BB/Santa
Cruz do Capibaribe (PE) por duas vezes. Esse assaltante foi preso em Brasília
(DF).
04.04.91 - Requerimento para tomar conhecimento do processo disciplinar
e que não obteve nenhuma resposta.
15.05.91 - Denúncias das irregularidades e perseguições à “CPI do Banco do Brasil” através do
Deputado Federal Leomar Quintanilha, no Congresso Nacional.
15.12.92 - Laudo médico-pericial de avaliação feita no CEASP de Campo
Grande (MS), onde ficam claros os traumas sofridos pela perseguição política e
que me mantém afastado do Banco.
04.01.93 - Apelo ao Presidente do Banco do Brasil, sr. Alcir A. Callari
para rever a minha situação e denúncia de horas-extras não remuneradas
praticadas no Cesec a mando do Chefe, sr. Ivaldo Luiz Quadros do Couto, e o
aliciamento de estagiárias para deporem na Justiça do Trabalho a favor do
Banco.
12.04.93 - Encaminhamento para efetuar avaliação médica no Ceasp de São
Paulo (SP).
04.05.93 - Comunicado de alta da licença-saúde, dada por pediatra do
Centro Médico do Cesec, sendo que eu fazia tratamento com um psiquiatra e uma
psicóloga, tentando conviver com os traumas da injustiça e humilhação sofrida
dentro do Banco. Até hoje continuo tomando medicamentos e o tratamento só foi
interrompido quando já não dispunha de dinheiro para pagar as sessões.
05.05.93 - Afastamento do serviço para responder inquérito
administrativo no dia seguinte à alta. Fica claro a má-fé na condução do
processo.
05.05.93 - Pedidos de esclarecimentos dentro do inquérito instaurado
para apurar as denúncias que eu havia feito contra o Chefe do Cesec. No
entanto, a maioria das perguntas não se referiam a essas denúncias (num
universo de 33 perguntas, apenas 3 se referiam a esse assunto) mas levantavam
questionamentos políticos meus pessoais, como a fundação do Metra - Movimento
de Moralização e Ética no Trato da Coisa Pública.
07.05.93 - Pedido de esclarecimento sobre fato acontecido, que apesar
de ter relação com o Banco do Brasil, não é da competência do Banco controlar,
pois envolvia assunto tratado no Rotary Club, fora do horário de trabalho e
fora das dependências do Banco. Demonstra claramente a conotação política em
não dar conhecimento à sociedade de fatos irregulares na condução das verbas de
programas federais.
14.05.93 - Resposta à interpelação feita, sem se registrar a pergunta
na cópia a mim fornecida. Assim eu não tenho provas de que as perguntas são
meramente políticas e não têm nada a ver com as denúncias de exploração dos
funcionários.
14.05.93 - Requerimento das cópias das perguntas e respostas do
inquérito.
21.05.93 - Fornecimento das cópias das respostas conforme a CIC Funci
7.2.4.g. Faltaram cópias das perguntas, conforme determina a CIC Funci 7.2.4.c.
00.00.00 - 33 respostas. Os temas são diversos, demonstrando mais uma
vez que a questão era de comportamento político e não de relação de trabalho.
21.05.93 - Fim do inquérito e comunicado de que o fato de eu ter
denunciado a Chefia do Cesec para a Direção Geral é passível de punição. A
acusação se diz baseada na CIC Funci 7.1.1.d. As normas do BB obrigam o
funcionário, que é conhecedor de irregularidades, a comunicá-las à Direção
Geral, sob pena de ser considerado cúmplice, e foi o que eu fiz.
24.05.93 - Ratificação dos fatos para o DEASP, na Direção Geral em
Brasília (DF).
06.06.93 - Declaração de ex-estagiária confirmando o aliciamento para
de depor na Justiça do Trabalho. Foi uma das acusações feitas à Direção Geral
contra a Chefia do Cesec.
02.08.93 - Requerimento feito ao Presidente do Banco do Brasil, Sr.
Alcir A. Callari, para rever a minha situação funcional e promover justiça
quanto a perseguição que vinha sofrendo desde o meu trabalho como fiscal na
agência de Sidrolândia (MS).
04.10.93 - Comunicado da demissão sumária, depois de 21 anos de
serviços prestados, sem esclarecerem o motivo. A lei trabalhista diz que a
demissão pode ser “sem justa causa”,
mas não diz que pode ser sem causa nenhuma, isto é, mesmo não sendo por justa
causa devia constar o motivo: negligência,
redução do quadro etc.
25.10.93 - Requerimento para pagamento de diferença nos cálculos de
rescisão contratual e pagamento de diferença no cálculo dos 40% de multa sobre
os depósitos no FGTS e requerimento da cópia da minha alta médica que não me
havia sido fornecido.
26.10.93 - Pagamento das diferenças no cálculo da indenização. Era
evidente a má vontade, a perseguição e o clima de humilhação a que queriam me
sujeitar, mesmo no pagamento da indenização da rescisão contratual.
17.11.93 - Apelo do Pen Club Internacional ao Ministro da Justiça e ao
Presidente do BB.
19.11.93 - Apelo para o Presidente do Banco do Brasil, Sr. Alcir A.
Callari.
02.12.93 - Novo requerimento pra revisão dos valores pagos a título do
FGTS e da respectiva multa.
06.12.93 - Indeferimento do pedido feito em 02.08.93.
23.12.93 - Requerimento para entrega de avaliação médica feita no Ceasp
de São Paulo (SP). Não responderam ao pedido.
28.12.93 - Atestado Médico comprovando que continuava em 28.12.93 o
tratamento psiquiátrico iniciado em 30.06.92.
17.02.94 - Requerimento do Dr. Aquiles Paulus para que o Banco do
Brasil faça revisão do valor pago a título de multa sobre o total depositado no
FGTS, e também para regularização de erro na aplicação de índice de juros e
correção monetária (73%) sobre os depósitos em 01.03.90. É evidente o
desinteresse do Banco em efetuar os acertos, que foi efetuado somente em
10.05.94.
26.02.94 - Matéria do “Correio do
Estado” com a manchete “PF investiga
denúncias de desvio de recursos rurais”, que confirma minhas denúncias.
03.03.94 - Matéria no “Correio do
Estado” com a manchete “Proagro tem
rombo de US$ 500 milhões”.
18.03.94 - Encaminhamento do Banco do Brasil para a Caixa Econômica
Federal dos cálculos para recomposição do saldo do FGTS. É interessante notar a
expressão “demitido deste Banco no
interesse do serviço”. Qual seria esse interesse se na minha última
avaliação funcional fui considerado “ótimo funcionário”?
21.03.94 - Indeferimento do recurso datado de 19.11.93.
21.05.94 - Requerimento para receber valor referente a multa pelo
atraso das parcelas da rescisão contratual. Não foi dada a resposta ao pleito.
20.07.94 - Apelo ao Presidente da república, Sr. Itamar Franco.
14.10.94 - Indeferimento ao apelo de 20.07.94.
22.11.94 - Apelo ao Vice-Presidente, Sr. Marcos Maciel.
31.01.95 - Texto da ata da reunião do Comitê do Cesec, onde aparece
claramente a referência a horas-extras frias, isto é, não remuneradas. Isso foi
uma das denúncias feitas contra a Chefia do Cesec e que motivou a demissão.
16.02.95 - Comunicado do Vice-Presidente, Sr. Marcos Maciel, ao
deputado Augustinho Rufino do encaminhamento do pleito, datado de 22.11.94, ao
Banco do Brasil. Não houve resposta.
10.11.95 - Recurso e apelo ao Sr. Henrique Pizzolato.
28.11.95 - Requerimento ao Coordenador do Comitê de Recursos do Banco
do Brasil. Não houve retorno, apenas me informaram por telefone que a minha
demissão já fazia tanto tempo atrás e que infelizmente caducara o prazo para
revisão.
Janeiro/96 - Matéria publicada em “O
Espelho” e que trata de horas-extras não pagas pelo Banco do Brasil,
comprovado mais uma vez a denúncia que havia feito.
06.05.97 - Perícia médica feita nesta data no INSS, onde consta no
laudo que a partir de 04.11.92 eu não tinha condições psicológicas para
trabalhar no recinto do Banco, portanto não poderia ter sido afastado do
serviço e muito menos demitido. O Dr. Samuel Pires Passo, psiquiatra, que me
assiste desde junho/92 até hoje, também confirma a minha incapacidade, mas o
Banco não se manifesta.
Janeiro/98 - Novamente matéria de “O
Espelho”, sob a manchete “Guerra ao
Trabalho Gratuito” e que trata de horas-extras não remuneradas.
Março/2004 – Depoimento sobre a “Máfia das Arrematações” para
ajudar o Judiciário, a pedido do juiz Eduardo Machado, e que me valeu
dissabores em sentença de ação contra o Banco do Brasil, proferida por
desembargador que se sentiu atingido no seu interesse.
14.05.2006 – 20:42 h, Dia das Mães, domingo, ATENTADO A BOMBA
INCENDIÁRIA com graves consequências para a saúde da minha esposa e para a
minha, e destruição de parte da nossa moradia.